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Negócios

Navegando para o Sucesso: Ideias e Aplicações Práticas para Criar seu Próprio Oceano Azul

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Introdução: Cansado de Batalhas Sem Fim? Existe Outro Caminho.

O cenário é familiar para a maioria das empresas: mercados cada vez mais saturados, uma competição acirrada por fatias de mercado e margens de lucro que diminuem a cada dia. Essas são as águas turbulentas dos “oceanos vermelhos”, onde a batalha sangrenta por clientes transforma concorrentes em tubarões famintos. Nesse ambiente, a estratégia se resume a superar o rival, muitas vezes em uma guerra de preços que não beneficia ninguém.

Mas existe uma alternativa estratégica: os “oceanos azuis”. Este conceito representa a criação de mercados novos, livres de concorrência, onde o objetivo não é lutar contra os rivais, mas torná-los completamente irrelevantes. Trata-se de criar um novo espaço de valor onde antes não havia nada.

O objetivo deste guia é fornecer um framework prático, baseado em casos reais, para que você possa aplicar sistematicamente essa mudança de perspectiva em sua própria organização. Vamos destilar princípios acionáveis de exemplos inspiradores extraídos diretamente do livro “A Transição para o Oceano Azul”.

Os oceanos azuis consistem menos em disrupção e mais em criação não disruptiva, na qual o lucro de um não precisa ser obtido à custa de outros.

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1. Aplicação Prática 1: Redefina o Problema para Descobrir um Novo Valor

O primeiro princípio para encontrar um oceano azul é desafiar as premissas básicas — os “fatos” que todos no setor aceitam sem questionar. É preciso analisar o mercado com novos olhos e perguntar: “E se as regras do jogo estiverem erradas?”

O caso da ActiFry do Groupe SEB é um exemplo perfeito. O mercado de fritadeiras elétricas estava encolhendo 10% ao ano, e a única arma na disputa por clientes era o preço. Acreditava-se que não havia mais espaço para inovação.

A equipe da ActiFry desafiou duas premissas fundamentais que definiam o setor:

  • Para fazer batatas fritas, era preciso fritar.
  • Para fritar, era preciso muito óleo.

Essa simples mudança de perspectiva redefiniu completamente o problema a ser resolvido. A questão deixou de ser “como produzir a melhor fritadeira” e se tornou algo muito mais poderoso e centrado no cliente.

“…se antes era ‘como produzir a melhor fritadeira’, agora passaria a ser ‘como produzir batatas fritas saudáveis, de dar água na boca e sem fritura’.”

O resultado foi um produto revolucionário. A ActiFry usa apenas uma colher de óleo, tornando as batatas fritas mais saudáveis, é mais segura de manusear e muito mais fácil de limpar. Ao redefinir o problema, o Groupe SEB não apenas criou um produto de sucesso, mas revitalizou todo o setor, que cresceu cerca de 40% ao atrair clientes novos que nunca haviam comprado uma fritadeira elétrica. A ActiFry prova que a inovação mais poderosa muitas vezes não vem de melhorar a resposta existente, mas de redefinir completamente a pergunta que o mercado está tentando responder.

2. Aplicação Prática 2: Crie Mercados Onde Não Havia Nenhum (Criação Não Disruptiva)

Nossa cultura de negócios está tão focada em “destruir” mercados que se torna cega para a vasta oportunidade de “criar” sem destruir. Essa obsessão pela disrupção limita a visão estratégica, confirmando uma verdade fundamental: aquilo que procuramos determina o que vemos. Ao pressupor que a única forma de criar um novo mercado é rompendo com um antigo, inúmeras oportunidades de “criação não disruptiva” são ignoradas. Este princípio defende que é possível gerar crescimento criando mercados inteiramente novos que não substituem os antigos, mas coexistem com eles.

Vila Sésamo é o exemplo central desse conceito. Antes de sua estreia, a educação infantil acontecia em pré-escolas, bibliotecas ou em casa. A Vila Sésamo não buscou substituir nenhuma dessas opções. Em vez disso, criou uma categoria totalmente nova: o “entretenimento educativo”, resolvendo um problema que muitos pais nem sabiam que tinham.

Em contraste com a “criação disruptiva”, Vila Sésamo é o resultado do que chamamos de “criação não disruptiva”, já que criou um espaço de mercado novo sem abalar um mercado existente.

Outro exemplo poderoso é o Microcrédito do Banco Grameen. Os bancos tradicionais simplesmente ignoravam a população mais pobre. O Grameen não competiu com eles pelos clientes existentes. Em vez disso, criou o setor de microfinanças ao identificar e solucionar um problema não explorado: a falta de acesso a capital para bilhões de pessoas.

3. Aplicação Prática 3: Encontre Oportunidades no Oceano de “Não Clientes”

A lógica empresarial tradicional manda focar nos clientes existentes. A estratégia do oceano azul propõe uma abordagem contraintuitiva: olhe para os “não clientes”. São eles que revelam os “pontos de dor” e as barreiras que limitam o crescimento de todo um setor.

A instituição de caridade britânica Comic Relief aplicou essa lição com maestria. O setor de caridade no Reino Unido era um oceano vermelho clássico: milhares de instituições competindo pelas mesmas doações, doadores cansados de apelos baseados na culpa e uma demanda geral em queda.

Em vez de focar nos clientes tradicionais — doadores ricos e mais velhos —, a Comic Relief mirou em um público que o setor ignorava:

“…todas as pessoas: pobres, ricos, jovens, velhos, até alunos de jardim de infância!”

Para atrair esse oceano de não clientes, a proposta de valor precisava ser radicalmente diferente. Saiu o apelo à culpa e entrou a diversão. Com o evento “Dia do Nariz Vermelho”, o lema passou a ser “Fazer algo divertido por dinheiro”. A ideia inspirou pessoas comuns a realizarem feitos inusitados, como um homem peludo que arrecadou fundos ao concordar em depilar todo o corpo com cera.

Para combater a desconfiança, um ponto de dor crucial no setor, a Comic Relief introduziu a “Promessa da Libra Dourada”: a garantia de que 100% das doações iriam diretamente para a causa. Isso só foi possível porque seu modelo de baixo custo, que eliminou galas caras e campanhas de marketing dispendiosas, permitiu cobrir os custos administrativos com patrocínios corporativos e investimentos. Ao focar nos não clientes e em seus pontos de dor, a Comic Relief criou uma nova forma de engajamento e se tornou um fenômeno cultural.

4. Aplicação Prática 4: Busque a Diferenciação E o Baixo Custo ao Mesmo Tempo

A estratégia convencional nos força a uma escolha: ou oferecemos um produto diferenciado a um custo maior, ou um produto básico a um custo menor. A Inovação de Valor, o pilar da estratégia do oceano azul, quebra esse dilema ao buscar a diferenciação e o baixo custo simultaneamente.

Os hotéis citizenM são um caso exemplar. Eles criaram um novo espaço de mercado de “luxo acessível” para viajantes frequentes, que valorizavam certas coisas e não se importavam com outras. Para alcançar essa inovação de valor, eles aplicaram uma lógica rigorosa sobre o que manter e o que descartar:

  • O que eliminaram/reduziram para baixar custos: A recepção tradicional, o concierge, carregadores de malas, serviço de quarto e restaurantes caros foram eliminados. O tamanho dos quartos foi reduzido, focando apenas no essencial para uma ótima noite de sono.
  • O que elevaram/criaram para oferecer um salto de valor: Investiram maciçamente em camas king-size de luxo, ótima localização nas cidades, tranquilidade com isolamento acústico superior, chuveiros incríveis e um espaço de convivência coletivo e estiloso, que funciona como um grande living para trabalhar, socializar ou relaxar.

Essa abordagem de criar valor nos pontos que realmente importam é tão poderosa que o próprio produto se torna a principal ferramenta de marketing, uma filosofia perfeitamente resumida pelo cofundador Michael Levie:

“Nosso objetivo não é depender do marketing para vender quartos de hotel. É criar uma experiência hoteleira que se torne nosso marketing, porque as pessoas não conseguirão deixar de recomendá-la e compartilhar fotos dela no Facebook e no Instagram.”

Conclusão: Qual Será o Seu Verso?

Criar um oceano azul não é um passe de mágica reservado para gênios da inovação, mas um processo sistemático e acessível que começa com uma mudança fundamental de perspectiva. Trata-se de parar de olhar para a concorrência e começar a olhar para as oportunidades inexploradas de criar valor.

Essa mudança de perspectiva vai além do lucro; é sobre o impacto que uma organização pode ter. É sobre como ela molda seu setor e contribui para o mundo dos negócios. No prefácio de “A Transição para o Oceano Azul”, os autores fazem uma bela referência ao poeta Walt Whitman, que refletia que cada um de nós pode “contribuir com um verso” para a poderosa peça que é a vida. Criar um novo mercado, gerar crescimento e oferecer um valor inédito é uma forma de contribuir com um verso único e poderoso.

O mundo está cheio de oceanos vermelhos. Depois de ver essas ideias, a pergunta que fica é:

Qual será seu verso? Qual será o nosso?